domingo, 30 de junho de 2013

ALÔ TEREZINHAAAA!!! ERA UM BARATO VER O CHACRINHA

O Velho Guerreiro comandou seus programas por quase
30 anos
Como o tempo passa... Parece que foi ontem, mas já fazem 25 anos que Chacrinha partiu para o andar de cima. Ninguém mais ouve chamar pela Terezinha sem sentir uma saudade, que vem acompanhada de uma alegria, de um sorriso.

José Abelardo Barbosa de Medeiros nasceu em Surubim-PE, em 30 de setembro de 1917. Ali, no calor nordestino se formou um dos maiores comunicadores que a nossa TV já teve. O jovem Abelardo soube captar como ninguém a essência do povo brasileiro. Seus programas tinham tudo o que o brasileiro gosta: festa, música, dança, mulheres, barulho, gozação, riso, confusão...

Aliás, o faro para saber se uma música, um conjunto ou um cantor faria ou não sucesso, vem da sua própria raiz musical. Chacrinha foi baterista de um banda na juventude, antes de estudar medicina. Mas para entrar no curso, Abelardo adotou um estranho método de estudo, porém lógico: ao se preparar para o vestibular, o jovem se trancava no quarto de cueca, e entregava todas as roupas para a mãe. Assim não poderia pensar em sair de casa, teria que meter a cara nos livros! Depois que ingressou na faculdade, viu que não conseguiria operar nenhuma pessoa, por não suportar ver sangue, e seguiu como músico.

Seu primeiro contato com o rádio aconteceu em 1937, na Rádio Clube de Pernambuco. Mas não seria o único. Após deixar a medicina, queria viajar com o Bando Acadêmico para a Europa, porém nesta época estourou a Segunda Grande Guerra, e a turma voltou para o Brasil, sem nem pisar no velho continente. Abelardo veio para o Rio de Janeiro, capital federal de então, e se fascinou o mundo maravilhoso do rádio. Logo conseguiu emprego como locutor.

O Rancho, a Buzina e a Discoteca

A primeira fantasia foi a de "disk-jóquei", com o disco de
telefone e o boné de um jóquei
Seu primeiro programa foi o carnavalesco "Rei Momo na Chacrinha". Abelardo passou a ser conhecido então como "o louco da chacrinha", que na verdade era uma pequena chácara onde ficava o estúdio da rádio. Com o passar do tempo, o apelido virou nome artístico. Nos anos 1950 criou o "Cassino do Chacrinha", onde construía através de vários sons diferentes um cassino real nas casas dos ouvintes. Várias vezes vinham pessoas visitar o local onde era o tal cassino e encontrava Abelardo de cueca, o operador de áudio e várias bugingangas usadas para os efeitos sonoros.

A TV veio na vida de Chacrinha em 1956. "Rancho Alegre" foi o primeiro programa comandado na TV Tupi. E nunca mais parou. Seus dois programas de maior sucesso, a "Buzina do Chacrinha" e a "Discoteca do Chacrinha" passaram pelas TVs Rio, Record, Excelsior, Bandeirantes e Globo. Como no começo não existia rede, o animador apresentava dois programas no Rio e dois em São Paulo, tudo ao vivo. Isso sem contar os shows que realizava ao lado de suas inseparáveis e inesquecíveis Chacretes. As dançarinas viraram referência na telinha, por sua beleza e sensualidade.

Chacrinha era um sujeito de personalidade forte. Sua história com a TV Globo mostra bem isso. Quando o diretor José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, chegou em 1967, ele já estava lá e era responsável pelos maiores índices da emissora. O canal estava no vermelho e ele, Dercy Gonçalves, Silvio Santos e Jacinto Figueira Jr. (O Homem do Sapato Branco) garantiam o IBOPE. Os dois bateram de frente muitas vezes. Em uma ocasião, ao fazer um concurso de cachorros com maior número de pulgas deixou a sede da Globo repleta desses parasitas, e a vizinhança também. Nem Roberto Marinho entrava lá.

Descobridor de talentos 

Roberto Carlos foi lançado no Rio e em São Paulo no quadro
"Cantor Mascarado"
O apresentador sempre estourava o horário de sua atração. Numa noite, Boni Já farto com a situação e já tendo conversado com o animador, mandou pessoalmente tirar o programa do ar, estourado em cinco minutos. Foi a gota d'água. Chacrinha saiu da Globo, não apenas por isso. A emissora já estava começando a implementar o famoso "Padrão Globo de Qualidade" e, naquela época, as atrações do programa eram de baixa qualidade, popularescas. Mas Boni nunca deixou de admirar o "Velho Guerreiro".

A volta para a emissora do Jardim Botânico aconteceu por intermédio de Florinda Barbosa, esposa de Chacrinha. Ela promoveu um encontro entre o diretor da Globo e o animador, e selaram o momento com a criação do "Cassino do Chacrinha", nos sábados globais. Foram mais seis anos de insuperável sucesso e audiência, que até hoje nenhum outro programa, seja da Globo ou não, jamais atingiu. Como ele mesmo definia, "uma bagunça organizada".

A lista de nomes de cantores que passaram por aquele palco, ou que começaram lá, é muito grande. De Gretchen a Roberto Carlos, de Chiclete com Banana aos Titãs, de Fábio Júnior a Nelson Ned, tudo o que era ou poderia ser sucesso estava no "Cassino", na "Discoteca" ou na "Buzina". Aliás, falando em "Buzina", Chacrinha também trouxe para a TV grandes talentos como jurados de calouros. O maestro Edson Santana, Elke Maravilha e Pedro de Lara são os mais famosos.

O "Papa" da comunicação

As famosas chacretes já foram chamadas de "TVzinhas" e
"Vitaminas"
A frase "na TV nada se cria, tudo se copia", criada por Abelardo Barbosa, não se aplica a ele. Seu estilo segue com único e inimitável, tamanha originalidade. Saiu da vida e entrou para a história. Jô Soares declarou em 2000 que a televisão alemã veio gravar o programa para tentar entender e explicar o fenômeno de comunicação que era o "Velho Guerreiro".

Hoje 25 anos depois, temos a oportunidade de rever, seja pelo canal a cabo Viva, seja pela internet, imagens preciosas de divertidos momentos da nossa TV, onde uma platéia delirava com bacalhaus, pepinos, e outras delícias. Os vídeos na web permitem que as novas gerações conheçam quem foi o animador que se comunicava, e não se trumbicava. Roda, roda, roda e avisa à Terezinha: como faz falta o "Cassino do Chacrinha".

Curiosidade:

  • A famosa "Terezinha" nunca existiu. Na verdade ela substituiu um merchandising que o apresentador fazia no começo da carreira: a água sanitária Clarinha. Chacrinha brincava com o nome deste patrocinador com seu auditório, mas o anunciante saiu do programa, e o bordão já tinha caído no gosto do povo. Então, o animador trocou a Clarinha pela inesquecível Terezinha;
  • O apelido "Velho Guerreiro" foi dado por Gilberto Gil, na canção "Aquele Abraço".
Vamos curtir os melhores momentos dos musicais do "Cassino do Chacrinha". Agradecimentos: microfone.jor.br, mundoonlineaqui.blogspot.com, radioemrevista.com, MegaMarina2 e Divulgação/TV Globo.


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