A atriz Daniela Perez, morta em 1992 |
Diogo, porém, não tem coragem de encerrar a relação. Bettina, desesperada, sai de carro e sofre um acidente. No hospital, ela é diagnosticada com morte cerebral. Seus órgãos são entregues para doação, e seu coração vai para a jovem Paola (Cristiana Oliveira). Com consciência pesada ao saber do ocorrido, o juíz vai atrás da nova dona do coração de Bettina, e os dois se apaixonam.
O folhetim provocou um aumento no número de doadores de órgãos, especialmente coração, em todo o país. Essa elevação foi constatada especialmente pelo InCor, o Instituto do Coração de São Paulo.
Além desta trama, a inversão dos papéis de homens e mulheres na sociedade foi apresentado pela boate Clube das Mulheres. Várias moças e até senhoras iam ao local acompanhar o striptease de homens fantasiados. Um deles, Juca (Victor Fasano) teve um polêmico romance com Stella (Beatriz Segall), uma frequentadora independente, rica e anos mais velha do que o rapaz.
O crime que chocou o público
Como disse no princípio, "De Corpo e Alma" seria mais uma novela, se uma morte trágica não fosse a maior lembrança do público sobre o folhetim. Em 28 de dezembro de 1992, o corpo da atriz Daniela Perez (22 anos), que vivia a personagem Yasmim, foi encontrado em uma região de floresta na Barra da Tijuca (RJ), com 18 punhaladas. No dia seguinte, as investigações da polícia concluíram que o ator Guilherme de Pádua seria o autor do assassinato. Guilherme trabalhava na mesma novela interpretando Bira, apaixonado por Yasmim. A esposa do ator, Paula Tomaz, confessou posteriormente a participação no homicídio.
O caso ganhou destaque internacional. O ator foi condenado a 19 anos de prisão, e Paula ficaria 18 anos na cadeia. Mas, na época do crime, o homicídio qualificado (praticado por motivo torpe, fútil ou com crueldade) não era considerado hediondo. A pena de seus réus poderia ser afiançada, ou ter seu tempo de regime fechado reduzido. Glória Perez, mãe de Daniela, mobilizou os veículos de comunicação, e conseguiu mais de 1 milhão de assinaturas para aprovação de emenda constitucional, que alterasse a Lei dos Crimes Hediondos.
Infelizmente a emenda não é retroativa, ou seja, em nada alterou o processo envolvendo o assassinato de Daniela. Porém existem atitudes que não são feitas para nossos contemporâneos. A mobilização da novelista nos prova que somente a vontade popular tem poder suficiente para mudar uma nação.
A repercussão 20 anos depois
Em 1999 o casal foi libertado, após ter cumprido sete anos da pena. Guilherme e Paula vieram a público, mesmo presos, através de entrevista ao "Fantástico"(TV Globo), para dar suas versões da história. Ele também falou com o "Programa do Ratinho"(SBT) e recentemente com o "Domingo Espetacular"(TV Record). A última aparição dele, já em liberdade e membro de uma igreja evangélica há alguns anos, foi duramente criticada, por não trazer nenhum fato novo. Segundo o jornal "O Globo", a Record foi processada por Glória Perez, proibida de reapresentar a matéria e, segundo a decisão da 12ª Vara Cível do Rio de Janeiro, pagará 500 mil reais por cada reprise da reportagem.
Nem todas as histórias de televisão terminam com finais felizes. Nem todo enredo ficcional pode ser mais cruel do que a realidade. Veja a homenagem que o elenco fez para a jovem atriz no dia seguinte a sua morte, e um vídeo com a música "Wishing on a Star", interpretada pelo conjunto The Cover Girls. Seria apenas mais um tema para uma personagem da novela das oito, mas se tornou uma das mais vivas lembranças de Daniela Perez.
Curiosidade: o título desta postagem foi retirada da frase dita pela atriz Beatriz Segall, na homenagem a Daniela. "Eu já tive a idade dela. Ela não vai ter a minha". Agradecimentos: danielsantosalves.blogspot.com, eltondecastro, fabiosc2010timao e TV Globo.
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