domingo, 30 de junho de 2013

ALÔ TEREZINHAAAA!!! ERA UM BARATO VER O CHACRINHA

O Velho Guerreiro comandou seus programas por quase
30 anos
Como o tempo passa... Parece que foi ontem, mas já fazem 25 anos que Chacrinha partiu para o andar de cima. Ninguém mais ouve chamar pela Terezinha sem sentir uma saudade, que vem acompanhada de uma alegria, de um sorriso.

José Abelardo Barbosa de Medeiros nasceu em Surubim-PE, em 30 de setembro de 1917. Ali, no calor nordestino se formou um dos maiores comunicadores que a nossa TV já teve. O jovem Abelardo soube captar como ninguém a essência do povo brasileiro. Seus programas tinham tudo o que o brasileiro gosta: festa, música, dança, mulheres, barulho, gozação, riso, confusão...

Aliás, o faro para saber se uma música, um conjunto ou um cantor faria ou não sucesso, vem da sua própria raiz musical. Chacrinha foi baterista de um banda na juventude, antes de estudar medicina. Mas para entrar no curso, Abelardo adotou um estranho método de estudo, porém lógico: ao se preparar para o vestibular, o jovem se trancava no quarto de cueca, e entregava todas as roupas para a mãe. Assim não poderia pensar em sair de casa, teria que meter a cara nos livros! Depois que ingressou na faculdade, viu que não conseguiria operar nenhuma pessoa, por não suportar ver sangue, e seguiu como músico.

Seu primeiro contato com o rádio aconteceu em 1937, na Rádio Clube de Pernambuco. Mas não seria o único. Após deixar a medicina, queria viajar com o Bando Acadêmico para a Europa, porém nesta época estourou a Segunda Grande Guerra, e a turma voltou para o Brasil, sem nem pisar no velho continente. Abelardo veio para o Rio de Janeiro, capital federal de então, e se fascinou o mundo maravilhoso do rádio. Logo conseguiu emprego como locutor.

O Rancho, a Buzina e a Discoteca

A primeira fantasia foi a de "disk-jóquei", com o disco de
telefone e o boné de um jóquei
Seu primeiro programa foi o carnavalesco "Rei Momo na Chacrinha". Abelardo passou a ser conhecido então como "o louco da chacrinha", que na verdade era uma pequena chácara onde ficava o estúdio da rádio. Com o passar do tempo, o apelido virou nome artístico. Nos anos 1950 criou o "Cassino do Chacrinha", onde construía através de vários sons diferentes um cassino real nas casas dos ouvintes. Várias vezes vinham pessoas visitar o local onde era o tal cassino e encontrava Abelardo de cueca, o operador de áudio e várias bugingangas usadas para os efeitos sonoros.

A TV veio na vida de Chacrinha em 1956. "Rancho Alegre" foi o primeiro programa comandado na TV Tupi. E nunca mais parou. Seus dois programas de maior sucesso, a "Buzina do Chacrinha" e a "Discoteca do Chacrinha" passaram pelas TVs Rio, Record, Excelsior, Bandeirantes e Globo. Como no começo não existia rede, o animador apresentava dois programas no Rio e dois em São Paulo, tudo ao vivo. Isso sem contar os shows que realizava ao lado de suas inseparáveis e inesquecíveis Chacretes. As dançarinas viraram referência na telinha, por sua beleza e sensualidade.

Chacrinha era um sujeito de personalidade forte. Sua história com a TV Globo mostra bem isso. Quando o diretor José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, chegou em 1967, ele já estava lá e era responsável pelos maiores índices da emissora. O canal estava no vermelho e ele, Dercy Gonçalves, Silvio Santos e Jacinto Figueira Jr. (O Homem do Sapato Branco) garantiam o IBOPE. Os dois bateram de frente muitas vezes. Em uma ocasião, ao fazer um concurso de cachorros com maior número de pulgas deixou a sede da Globo repleta desses parasitas, e a vizinhança também. Nem Roberto Marinho entrava lá.

Descobridor de talentos 

Roberto Carlos foi lançado no Rio e em São Paulo no quadro
"Cantor Mascarado"
O apresentador sempre estourava o horário de sua atração. Numa noite, Boni Já farto com a situação e já tendo conversado com o animador, mandou pessoalmente tirar o programa do ar, estourado em cinco minutos. Foi a gota d'água. Chacrinha saiu da Globo, não apenas por isso. A emissora já estava começando a implementar o famoso "Padrão Globo de Qualidade" e, naquela época, as atrações do programa eram de baixa qualidade, popularescas. Mas Boni nunca deixou de admirar o "Velho Guerreiro".

A volta para a emissora do Jardim Botânico aconteceu por intermédio de Florinda Barbosa, esposa de Chacrinha. Ela promoveu um encontro entre o diretor da Globo e o animador, e selaram o momento com a criação do "Cassino do Chacrinha", nos sábados globais. Foram mais seis anos de insuperável sucesso e audiência, que até hoje nenhum outro programa, seja da Globo ou não, jamais atingiu. Como ele mesmo definia, "uma bagunça organizada".

A lista de nomes de cantores que passaram por aquele palco, ou que começaram lá, é muito grande. De Gretchen a Roberto Carlos, de Chiclete com Banana aos Titãs, de Fábio Júnior a Nelson Ned, tudo o que era ou poderia ser sucesso estava no "Cassino", na "Discoteca" ou na "Buzina". Aliás, falando em "Buzina", Chacrinha também trouxe para a TV grandes talentos como jurados de calouros. O maestro Edson Santana, Elke Maravilha e Pedro de Lara são os mais famosos.

O "Papa" da comunicação

As famosas chacretes já foram chamadas de "TVzinhas" e
"Vitaminas"
A frase "na TV nada se cria, tudo se copia", criada por Abelardo Barbosa, não se aplica a ele. Seu estilo segue com único e inimitável, tamanha originalidade. Saiu da vida e entrou para a história. Jô Soares declarou em 2000 que a televisão alemã veio gravar o programa para tentar entender e explicar o fenômeno de comunicação que era o "Velho Guerreiro".

Hoje 25 anos depois, temos a oportunidade de rever, seja pelo canal a cabo Viva, seja pela internet, imagens preciosas de divertidos momentos da nossa TV, onde uma platéia delirava com bacalhaus, pepinos, e outras delícias. Os vídeos na web permitem que as novas gerações conheçam quem foi o animador que se comunicava, e não se trumbicava. Roda, roda, roda e avisa à Terezinha: como faz falta o "Cassino do Chacrinha".

Curiosidade:

  • A famosa "Terezinha" nunca existiu. Na verdade ela substituiu um merchandising que o apresentador fazia no começo da carreira: a água sanitária Clarinha. Chacrinha brincava com o nome deste patrocinador com seu auditório, mas o anunciante saiu do programa, e o bordão já tinha caído no gosto do povo. Então, o animador trocou a Clarinha pela inesquecível Terezinha;
  • O apelido "Velho Guerreiro" foi dado por Gilberto Gil, na canção "Aquele Abraço".
Vamos curtir os melhores momentos dos musicais do "Cassino do Chacrinha". Agradecimentos: microfone.jor.br, mundoonlineaqui.blogspot.com, radioemrevista.com, MegaMarina2 e Divulgação/TV Globo.


quinta-feira, 27 de junho de 2013

ESPECIAL RECORD 60 - NOTÍCIAS E BATE BOLA DO 7

Adriana Araújo e Celso Freitas na bancada do "JR"
Nos últimos dias, jornalismo e esporte nunca estiveram tão em evidência na TV. E esses dois pilares de uma programação de TV estão presentes também na história da TV Record, que completa 60 anos em setembro deste ano.

Desde sua inauguração, em 1953, a informação sempre teve espaço garantido no canal 7. A base principal de sua grade sempre foram os noticiosos, que com o passar dos anos ganharam cada vez mais espaço. Um dos primeiros telejornais foi o "Mappin Movietone", que tinha apenas um locutor lendo as notícias diante de uma câmera de TV. Como a maioria dos programas da época, era comum as atrações serem totalmente produzidas por algumas agências de propaganda. Por isso este jornal levava o nome da grande loja de departamentos de São Paulo, na época.

A emissora também contou com a ilustre presença do "Repórter Esso" nos anos 1960. Mas, rendendo-se ao formato vitorioso do "Jornal Nacional" na Globo, nasceu o "Jornal da REI", a Rede de Emissoras Independentes. A cadeia era liderada pela Record e, mais tarde, pela TVS-Rio. O noticiário não durou muito, e foi substituído pelo "Jornal da Record"(1972), que está no ar até hoje, como o carro-chefe do jornalismo da emissora.

Grandes jornalistas passaram pela casa: Ferreira Netto, Maria Lydia Flandoli, Carlos Bianchini, Adriana de Castro, Carlos Oliveira, Chico Pinheiro, Sílvia Poppovic, Celso Ming, Paulo Markun e Ricardo Carvalho. Para atrair anunciantes e trazer mais credibilidade, Boris Casoy também fez parte do time.

O povo na TV

Ney Gonçalves Dias ficou no "Cidade Alerta" de 1995 a 1997
Mas o forte da emissora é chamado jornalismo popular. "Cidade Alerta" sempre mostrou a violência das ruas e as necessidades do povo. O informativo estreou com Ney Gonçalves Dias em 1995, e por lá já passaram João Leite Netto, Gilberto Barros, José Luis Datena, Oscar Roberto Goddoy, Milton Neves, Reinaldo Gottino e Marcelo Rezende.

O jornalismo local esteve presente na Record através do "Informe Praça", do início dos anos 1990, "Praça no Ar"(2001) e "Praça Record"(2006), nos anos 2000. Hoje o grande sucesso local da casa é o "Balanço Geral"(2007), que possui sua edição municipal em cada cidade onde há uma afiliada da rede.

As grandes reportagens também ganharam espaço quando Edir Macedo assumiu o controle do canal. "Repórter Record"(1995) e "Câmera Record"(2008) foram comandados por Goulart de Andrade, Celso Freitas, Marcos Hummel, Marcelo Rezende e Roberto Cabrini. Atualmente as grandes referências do jornalismo da casa são o matinal "Fala Brasil"(1998) e "Domingo Espetacular"(2005).

O jornalismo tem uma importância tão grande no negócio da Record que, em 2007 foi lançada a Record News, o canal de notícias 24h do grupo, totalmente gratuito. Nesta emissora, é possível ver produções próprias, a reapresentação de programas da Rede Record, além de ser um braço importante na cobertura esportiva dos jogos comprados com exclusividade.

A força do esporte

Imagem do "Desafio ao Galo, torneio de futebol famoso nos
anos 1980, transmitido aos domingos pelo canal 7
Contudo, uma das marcas dos primeiros 20 anos do canal 7 foi o esporte. E não é pra menos. A emissora foi pioneira nas transmissões de futebol. A partida entre Santos e Palmeiras foi a primeira transmissão externa de um jogo, em 1955. No ano seguinte, mais uma inovação: a Record transmitiu o Grande Prêmio Brasil ao vivo, direto do Rio para São Paulo. Uma loucura, pois não existia a rede de transmissão para emissoras de televisão.

A TV do "Marechal da Vitória", como ficou conhecido o fundador Paulo Machado de Carvalho pelas campanhas do Brasil nas Copas de 1958 e 1962 era imbatível na área esportiva. Um dos primeiros programas de debate sobre futebol nasceu na Record. "Mesa Redonda" era apresentado por Geraldo José de Almeida e Raul Tabajara, no ano seguinte a inauguração. Por muitos anos, a estação conquistou altos índices de audiência exibindo as partidas dos times paulistas. Tanto que foi acusada de esvaziar os estádios, e em meados dos anos 1960 foi proibida, junto com outros canais, de transmitir os jogos.

Não tinha jeito! Assistir ao esporte bretão no conforto do seu lar virou mania nacional. Pela Record então, era quase uma obrigação. A emissora é a única que viu as cinco vitórias da seleção brasileira, em Copas do Mundo. Em 1958 na Suíça e em 1962 no Chile em filme. Já em 1970, como integrante da REI, a Record transmitiu o tricampeonato ao vivo, direto do México, num pool que reunia a também a Rede Tupi e a Rede Globo.

Já nos anos 1970, Silvio Luíz passa a integrar o time do canal 7 com os programas "De Olho no Lance"(1977) e "Clube dos Esportistas"(1982). A partir desta época, até meado dos anos 1990, as transmissões esportivas foram diminuindo. Algumas modalidades como Vôlei e Basquete ganharam destaque.

Datena, Indy e exclusividades olímpicas

Mylena Ciribelli comandou de Londres a cobertura exclusiva
da Olimpíada de 2012
A nova força do esporte surgiu em 1995, quando a emissora passou a transmitir os campeonatos paulista e carioca. Nesta época surgiu o "Com a Bola Toda", que trouxe José Luíz Datena da Band. No ano seguinte, a Record conseguiu transmitir, juntamente com Globo, SBT e Bandeirantes, os Jogos Olímpicos de Atlanta-EUA. Em 1998, numa polêmica envolvendo a compra dos direitos de transmissão, a rede ficou de fora da Copa da França.

O automobilismo não poderia faltar, já que a Fórmula Indy esteve lá em 2001, por duas temporadas. No mesmo ano, Milton Neves chegou para comandar "Debate Bola" e "Terceiro Tempo". Porém o grande salto aconteceu com a compra da exclusividade dos direitos de exibição dos Jogos Olímpicos de Inverno (Vancouver-2010), a Olimpíada de Londres (2012) e os Jogos PanAmericanos de Guadalajara (2011), sem contar que em TV aberta já está garantido pela emissora o Pan de Toronto em 2015. Desde quando a emissora de Roberto Marinho atingiu a liderança, nunca a Rede Globo deixou de exibir uma olimpíada.

Curiosidades

Murilo Antunes Alves trabalhou 63 anos na TV Record
Neste capítulo deste mês, merece destaque o jornalista que mais tempo trabalhou na Record: Murilo Antunes Alves. Formado em Direito, iniciou sua carreira ainda na Rádio Record, em 1947. Foi um dos elementos da emissora convocados para implementar a caçula da organização, o canal 7, em 1953. E nunca mais se afastou dela. Em 1973 estreou o jornal "Record em Notícias", ao lado de Hélio Ansaldo, que ficou no ar por 23 anos. Mesmo sem aparecer no vídeo, Murilo atuou na produção dos jornalísticos da estação até 2010, quando faleceu aos 91 anos.

O "Record em Notícias" era conhecido como "Jornal da Tosse", já que sempre um de seus comentaristas tossia frente às câmeras, além da idade avançada de todos os participantes.

Vamos conferir algumas imagens dos bastidores do jornalismo atual da emissora, a inauguração da Record News e a estrutura montada pela rede em Londres. Agradecimentos: historiasdopari.wordpress.com, ribeiro111, aprovacaotv, Lucas Maester e Divulgação/TV Record.









quarta-feira, 19 de junho de 2013

CRÍTICA - UM DESABAFO, PARA NÃO SER INDIFERENTE

Ninguém da equipe se feriu
Fonte: UOL
Não dá pra ficar alheio à onde de manifestações que tomaram conta do Brasil desde a semana passada. Especialmente porque o alvo de alguns se tornou a televisão. Como todos sabem, milhares de pessoas foram às ruas em várias capitais e grandes cidades brasileiras protestar contra o aumento das tarifas de transporte público. A reação violenta da polícia em São Paulo foi a gota d'água para eclodir um super movimento contra uma série de abusos dos governos estaduais e federal. Os valores astronômicos gastos com a Copa das Confederações e a Copa do Mundo de 2014 são um dos motivos da revolta da população.

Não vou fazer a defesa da TV, já que teve emissora, na semana passada, tratando os manifestantes como vândalos. Somente após o apoio retumbante da população à causa e aos protestos pacíficos, que a postura dos grandes canais mudou, e passou a fazer a cobertura do movimento, até com mais intensidade. Sem contar que, para boa parte do público, algumas históricas omissões televisivas jamais foram esquecidas. O povo não é bobo!

Mas como jornalista, não posso ficar calado diante do vandalismo praticado ontem (18/06) contra uma equipe da TV Record, diante da sede da prefeitura de São Paulo. Um pequeno grupo de marginais (sim, pois é assim que se chama quem pratica crimes como este) atirou pedras e ateou fogo em uma UMJ (Unidade Móvel de Jornalismo). Uma outra jornalista da TV Bandeirantes foi agredida no mesmo local. Um carro do SBT foi pichado. Isso sem contar as agressões a repórteres e fotógrafos, praticados na última semana.

A imprensa se rendeu aos manifestantes, quando viu que suas reivindicações eram justas e mais do que corretas. Seu papel é registrar o fato, e quem não gostar da linha editorial deste ou daquele veículo, vá para a internet. O que não pode é impedir os órgãos de imprensa de trabalhar e atacar jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas, que são tão trabalhadores quanto os manifestantes. Assistindo a uma das inúmeras reportagens durante os protestos, vi um repórter abordar um participante que se recusou a falar com o jornalista. Simples assim. É um direito dele. Essa é uma postura civilizada.

Claro que não é possível generalizar. A grande maioria das pessoas que foram lutar pelos direitos de todos, foram pacificamente. O que não pode é deixar que atitudes estúpidas de pequenos grupelhos manchem um movimento que já entrou para a história. E as ações que me refiro não são apenas as agressões às equipes de televisão, mas pelo vandalismo e os saques.

Este é um momento histórico em que, como dizem nas ruas, o gigante acordou. A força deste movimento também aumentou graças às imagens exibidas nos telejornais para todo o Brasil. Muitas emissoras abriram mão de suas programações normais para dar voz aos protestos país a fora. Vivemos mais de 20 anos sob censura. Tentar calar os meios de comunicação é uma atitude covarde de quem quer o poder à força, e tivemos exemplos do que se conquista com e sem violência nestas últimas duas semanas.


domingo, 9 de junho de 2013

CRÍTICA: RECRIAR É PRECISO

Segundo comunicado da Record, Gugu vai se dedicar a
"produção independente"
A última semana foi bem movimentada, graças ao repentino rompimento de Gugu Liberato com a Record. Após quatro anos de contrato, e com mais quatro pela frente, o apresentador decidiu na última quinta-feira encerrar o compromisso com a emissora da Barra Funda.

Muita coisa foi dita nestes últimos dias. Que o salário de R$3 milhões que Gugu tinha evitaria em torno de 600 demissões, que a pressão por parte dos diretores do canal estava sendo forte demais, entre muitas outras coisas. Tudo isso quem pode confirmar ou negar, um dia, é o próprio apresentador.

Ns palavras de Paraguaçu, "deixemos de lado os entretantos e falemos dos finalmentes". Vamos analisar as razões para o fim desta milionária parceria. Em 30 de agosto de 2009, estreia o "Programa do Gugu", com ares de super produção, e com muitas promessas. Após 27 anos de SBT, e 35 anos de Grupo Silvio Santos, a Record conseguiu o que nem a Globo realizou: tirou da Anhanguera o "substituto" do ex-dono do Baú nos Domingos. Os bispos prometeram programa de entrevistas na Record News, jatinho e helicóptero disponíveis para o dominical.

O então apresentador do "Domingo Legal" alegou que não se sentia prestigiado no SBT, e que não queria ser sócio da emissora com seu programa, assim como Raul Gil e Ratinho. Na rede de Edir Macedo, manteve o mesmo esquema que vinha apresentando em sua antiga casa, mas agora em horário noturno. A atração começou bem, garantia o segundo lugar fácil, mas em dezembro daquele ano começou a ser derrotada pelo "Programa Silvio Santos".

A direção trocou o horário do dominical, que passou a anteceder o jornalístico "Domingo Espetacular". Gugu passou a enfrentar o Faustão na Globo novamente, como fazia no final dos anos 1990 e saía vitorioso. Mas com o tempo, seu objetivo passou a ser a vice-liderança, e não o primeiro lugar. Eliana, que passou a ocupar o antigo horário do loirinho no SBT, cativou o público e trouxe de volta o segundo lugar para o canal.

Para tentar resgatar audiência, o animador e seu diretor, Homero Salles, tentaram de tudo. Talvez esteja aí a razão do problema. A maioria das ideias aplicadas no programa, são quadros velhos, antigos, que Gugu já tinha apresentado, ou já era conhecido do público. A "Corrida do Gugu" já fez parte da carreira do artista como "Corrida Maluca", "Sonhar mais um Sonho" e "Gugu Bate a sua Porta" foram produzidos já na fase do "Domingo Legal", "Escolinha do Gugu" é dos formatos mais antigos na TV, e o "Desafio Musical" já foi apresentado por Silvio Santos como o inesquecível "Qual é a Música?"

Acharam que o problema estava até nas roupas do Gugu, que trocou o terno por camisas polo e tênis moderno. Lembrem-se de que no começo da carreira, o animador se vestia igualzinho ao Silvio Santos. Até o mesmo microfone ele usava! No entanto, o que o diferenciava eram as novidades que trazia para o programa, sempre com um tom popular, mas distintas do que Silvio apresentava.

Gugu precisa se renovar, se redescobrir como artista e como animador. Um bom exemplo é seu mestre, Silvio Santos, que apresenta os mesmos quadros, mas de uma maneira diferente de quem os assistiu há 10 ou 20 anos atrás.

Mas a Record também errou, ao colocar tão imediatamente no ar um artista que tem a imagem fortemente associada à concorrência. Era necessário deixar esfriar a ligação Gugu-SBT, na cabeça do público. Xuxa serve de modelo para esse caso. A Rainha dos Baixinhos ficou seis meses na geladeira da Globo antes da estreia do "Xou da Xuxa", para desassocia-la da Rede Manchete, onde apresentava o "Clube da Criança".

O futuro de Augusto Liberato por enquanto é incerto. O que se sabe é que hoje vai ao ar o último "Programa do Gugu" ao vivo, pela Rede Record. Pela curiosidade do público, é bem provável que esta exibição renda bons índices para a emissora.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

QUE SAUDADES...

Cena final da vinheta de abertura
da programação
Hoje completa-se 30 anos do primeiro pouso um "M" voador no edifício projetado por Oscar Niemeyer, na Rua da Glória 744. Há três décadas a trajetória do imigrante ucraniano Adolpho Bloch atingia seu ápice com a estreia da Rede Manchete de Televisão. Era o que faltava para completar seu império de comunicações, iniciado a partir de uma gráfica e, em 1952, com a Revista Manchete.

É um dia em que milhares de ex-baixinhos se lembram de onde Xuxa veio e, sozinha num palco sem nave e repleto de crianças, construía seu reinado. Também não se esquecem de um anjinho loiro, com uma pinta na perna, que brincava às tardes num clube inesquecível. Ela não estava sozinha. Trazia consigo as aventuras de heróis japoneses, que povoam o imaginário de muito marmanjo atualmente.

Como era gostoso o carnaval... Uma cobertura com a cara do Brasil, com a cara do Rio, com a cara do povo. Dos desfiles na Marquês de Sapucai, aos bailes nos clubes e o glamuroso concurso de fantasias. Ampla, alegre e completa, que sempre deixava um gostinho de "quero mais", saciado nas bancas de jornais pela sua irmã impressa.

Quanta comunicação, e quantos comunicadores nasceram ou foram para lá. Raul Gil, Clodovil, J. Silvestre, Bruna Lombardi, César Filho, Claudete Troiano, Beth Russo, Astrid Fontenelle, Otávio Mesquita, Sérgio Mallandro e muitos outros.

O sonho da "volta"

E foram tantas histórias contadas. De escravas a pantanais, passando por tocaias, pela Amazônia, banhando Beijas, brilhante como um raio e estrondosa como um trovão. Muitas figurinhas nasceram lá e hoje seguem contando e fazendo história em outras janelas.

Adolpho Bloch, pai de Manchete
Aliás, como alguns definem, a TV é uma janela para o mundo. E a informação de qualidade, completa, objetiva também tinha seu espaço, e privilegiado. Eram horas e mais horas em que uma trilha de video game prenunciava os conflitos reais dos homens, os avanços da ciência e tecnologia, explicava a economia em tempos finais de ditadura, Sarney, Collor, Itamar e FHC. Vivemos tempos difíceis, mas já passamos por coisas muito piores.

O aniversário de alguém querido, que deixou boas lembranças, em algum momento vai ter este lamento-título. A "TV do ano 2000" não chegou nem ao fim de 1999. Se viva fosse, seus funcionários, artistas, jornalistas, colaboradores e telespectadores estariam comemorando o aniversário de 30 anos. Uma história de lutas, conquistas, decepções, tristeza, descaso e sucesso hoje é recordada por milhares de fãs que acordavam cedo para ver em suas casa um "M" voador iniciar um novo dia.

Embora haja quem queira que a Manchete volte, e não são poucos na internet, isso não é totalmente possível na prática. Não será a mesma coisa. A emissora era uma grife, um diferencial de ousadia e qualidade milionárias, que a matou (e com isso gerou centenas de processos trabalhistas, que andam mais lentos do que tartarugas) mas que marcou os corações dos brasileiros que assistiam a Rede Manchete de Televisão. Que saudades, Manchete... Que saudades...

Curiosidades:
  • A Rede Manchete contou com a consultoria de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni. O então vice presidente operacional e criador do padrão Globo de qualidade atendeu a uma ordem de seu patrão, Roberto Marinho. Bloch não entendia de televisão e foi aconselhado por Marinho a não se envolver nesta área, mas aceitou ajudá-lo. Os dois empresários eram amigos de longa data. A consideração era tanta que as Organizações Globo não investiam em revistas semanais em respeito ao pai de Manchete. Quando ganhou a TV, Adolpho garantiu ao dono da Globo que não faria novelas, em troca do auxílio de profissionais globais para a implementação da nova rede. Mas experimentou pequenas coisas com teledramaturgia e gostou do resultado. Quando cismou em fazer novelas, nunca mais voltou a falar com Roberto Marinho. Anos depois, já com a emissora afundada em dívidas, o dono da Manchete resolve pedir socorro ao amigo. Marinho nem quis ouvir o que Bloch tinha a dizer. O empresário ucraniano saiu sem ajuda e sem amigo. Este relato está escrito no livro "Os Irmãos Karamabloch" (Companhia das Letras, 2008), do jornalista Arnaldo Bloch, sobrinho neto de Adolpho, indispensável para quem quer saber mais sobre a trajetória de toda a família Bloch.
  • A vinheta de abertura e encerramento da programação (veja no vídeo abaixo) marcou tanto que foi construído o logotipo prateado da emissora, e colocado no alto do Edifício Manchete. Diferente do vídeo, o "M" ficou posicionado do lado direito do prédio, destinado às emissoras de rádio e TV do grupo Bloch. No outro lado ficava a Bloch Editores.
Agradecimentos: redemanchete.net e AARS