sábado, 20 de outubro de 2012

CRÍTICA - SANGUE NOVO, PÚBLICO NOVO, TRADIÇÃO RENOVADA

Um fenômeno. Esse foi o adjetivo mais utilizado para definir "Avenida Brasil", novela de João Emanuel Carneiro, que teve seu último capítulo apresentado pela Globo na última sexta (19/10). Não concordo tanto com esse termo. O sucesso de Nina, Carminha e cia. foi resultado creditado mais na pesquisa de mercado, no conhecimento do seu público, e claro no talento de seus profissionais, do que uma mera obra do acaso.

Muitos apostavam, e há quem ainda aposte, que o gênero novela como o conhecemos é demasiadamente ultrapassado, ninguém mais se dispõe a ficar de seis a oito meses acompanhando uma história etc, etc. Atualmente, com a chegada da internet e suas redes sociais, segundo esses mesmos críticos, a tendência é a audiência desses produtos cair gradualmente. Os índices davam mais força para essa opinião. "Laços de Família" (Globo,2000), de Manoel Carlos, registrou média de 45 pontos. Dez anos depois, "Passione" (Globo, 2010), de Silvio de Abreu, fechou com 35 durante sua exibição, segundo dados do IBOPE.

Neste intervalo também aconteceram suas exceções, como "Senhora do Destino". Escrita por Aguinaldo Silva em 2004, a novela alcançou em média 50 pontos. Mas como explicar o sucesso dessas duas histórias em especial, junto a uma geração que não tem na televisão a sua única diversão? O roteiro e o reconhecimento da transformação de uma sociedade pela emissora.

A ascensão da chamada classe C sacudiu a economia nacional em todos os sentidos. Não poderia ser diferente com a televisão. As novelas produzidas pela Globo sempre mostraram um Brasil rico, calcado no pensamento de que todo mundo gosta do luxo, especialmente quem não vive nele. A estabilidade monetária e o aumento do poder aquisitivo do trabalhador, permitiu uma renovação no público consumidor de novela. O povo quer se ver na TV, mas não como figurante, como acontecia antes, e sim protagonista. Os bairros do Leblon e Ipanema agora devem dar espaço para o subúrbio carioca, assim como as demais periferias brasileiras.

"Avenida" parou a presidente do Brasil

Quanto ao reconhecimento regional, a emissora dos Marinho já avançou um pouco. "Cheias de Charme" foi uma trama produzida com elementos atrativos especialmente ao povo de Belém do Pará, onde a audiência do horário das 19h estava numa séria crise. "Avenida Brasil" colocou o brasileiro comum como estrela principal de seu enredo. João Emanuel vem provar que é necessário sangue novo no time de autores da teledramaturgia nacional. Sua novela também mostrou que sim, um folhetim ainda é capaz de prender a atenção do público por sete meses, mesmo com internet! Aliás, as redes sociais eram um complemento para os telespectadores. Milhares de pessoas assistiram ao seu desfecho fazendo comentários em suas páginas pessoais nestes sites.

Porém a maior confirmação de que o formato ainda é forte foi a mobilização nacional que provocou. Bolões de apostas foram feitos aos milhares, para adivinhar quem foi o assassino de Max (Marcelo Novaes). Várias pessoas saíram apressadas de seus trabalhos para chegar mais cedo em suas casas, para não perder a novela. Até a presidente Dilma Rousseff deu um jeitinho na agenda para assistir a conclusão da trama do fictício bairro do Divino.

O público que consome novela mudou, e a Globo despertou para essa realidade. Claro que sua iniciativa não foi pioneira. A Record já havia dado o "tratamento global" para novelas mais populares, como "Prova de Amor"(2005) e "Vidas Opostas"(2006). Mas como a líder de audiência possui o chamado "know-how"(conhecimento) e o talento, não apenas artístico, mas também técnico, os reflexos dessas implementações ganham dimensões gigantescas. O segredo está em conhecer o público para quem se está falando, e um bom roteiro sempre, pois no caso das novelas, o hábito já está mais que consolidado e seguirá assim por muitos anos. Até a reviravolta do próximo capítulo. Agradecimentos: TV Globo.

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