sábado, 27 de outubro de 2012

ALEGRIA DA VIDA É APRENDER

Sônia Braga e Garibaldo em Vila Sésamo


Imagine ensinar para as crianças as cores, através da televisão em preto e branco? Loucura? Não, realidade desenvolvida com sucesso pela produção de "Vila Sésamo". O lançamento da primeira versão completa 40 anos em 2012.

O projeto vitorioso em diversos países nasceu nos Estados Unidos, criado pela Children's Television Workshop, em 1969. Os grandes protagonistas, em todas as edições realizadas, eram os bonecos criados por Jim Henson, o "pai" dos Muppets. A versão americana tem 37 temporadas, com 4.135 episódios.

A TV Cultura e a Rede Globo tinham interesse em fazer a versão brasileira do infantil. A co-produção entre as duas emissoras nasceu para preencher faltas que ambas tinham para produzir a atração sozinhas. A Cultura não tinha grana suficiente, mas a Globo não dispunha de estúdios livres para gravar no Rio de Janeiro. Então, a emissora educativa entrou com suas dependências em São Paulo, além de uma parceria com a Xerox, e o canal de Roberto Marinho entrava com o restante do valor pelo pagamento de direitos.

Mas nem tudo foi fácil. Os diretores americanos queriam que o programa brasileiro chama-se Rua Sésamo. A ideia era fazer a tradução literal do original gringo, "Sesame Street". Cláudio Petraglia, diretor da TV Cultura, pediu para o cenógrafo Ferrara fazer umas fotos de algumas vilas no bairro paulistano do Bexiga. Petraglia achava que "Rua" não ficava bem para o Brasil. A partir das fotos e do projeto cenográfico produzido por Ferrara, o diretor defendeu que aqui, a realidade era mais comum em vilas.

Atores e bonecos na mesma vila

O infantil tinha uma produção nacional, e exibia trechos dublados do programa dos Estados Unidos. São conhecidos dos baixinhos brasileiros o sapo Caco, a dupla Ênio e Beto, e muitos outros. Em terras tupiniquins, os atores Paulo José, Flávio Migliaccio, Milton Gonçalves, Aracy Balabanian, Armando Bogus e Sônia Braga contracenavam com bonecos como o mal-humorado Gugu, o rato-elefante Funga-Funga, além da participação de crianças carentes no programa.

O Garibaldo brasileiro, vivido pelo ator Laerte Morrone, merece um destaque especial. O pássaro gigante, na versão yankee Big Bird, tinha um monitor dentro da fantasia, para o manipulador ver o que acontecia em cena. No formato brasuca, sem muita verba, Laerte passava muito calor dentro do boneco, e enxergava o mundo em sua volta por uma pequena abertura na roupa da ave. Por isso, Garibaldo era maluquinho, bem diferente de seu primo americano.

"Vila Sésamo" ensinava as letras, as cores, os números, além de transmitir noções de higiene, saúde,  convivência social e valores humanos de maneira alegre e divertida. A parceria Globo/Cultura durou até 1974, quando a emissora carioca pôde assumir sozinha a produção. Esta primeira versão ficou no ar até 04 de março de 1977. Muitos adultos, que cresceram assistindo o programa, pediam a sua volta. Foram atendidos, e em 29 de outubro de 2007, a TV Cultura traz novamente o infantil, repetindo a parceria com a produtora americana.

O pássaro azul

Até hoje a atração tem milhares de telespectadores espalhados pelo Brasil, através das emissoras educativas que exibem o programa. A fórmula continua a mesma, porém foram acrescentados elementos novos, como a linguagem da internet. Juntamente com "Cocoricó", "Vila Sésamo" é um dos campeões em licenciamento pela emissora da Fundação Padre Anchieta.

Vale a pena assistir alguns trechos do programa nas fases da Cultura, da Globo e a volta de "Vila Sésamo" nos anos 2000. Criatividade pura, em nome da educação! Curiosidade: o Garibaldo de 1972 era azul. 35 anos depois, o pássaro ganhou sua cor original, o amarelo.

Agradecimentos: Tiago43, BAUDATV, bobshuttle, RogerioAndre, davicurygomes, meubebenaweb, maxwell705, Veja e Reprodução/TV Cultura/TV Globo















sábado, 20 de outubro de 2012

O FESTIVAL DOS FESTIVAIS DO BRASIL

Marília Medalha, Edu Lobo e Quarteto Novo na final do Festival
Se para a arte moderna brasileira, o ano de 1922 representa um divisor de águas, 1967 foi um marco para a música nacional. Em 2012, o III Festival de Música Popular Brasileira, realizado pela TV Record, completa 45 anos.

Vamos entender um pouco da história deste programa. Solano Ribeiro foi o grande organizador do gênero, que estreou dois anos antes na TV Excelsior, com excelentes resultados. A Record havia encontrado nos programas de auditório um caminho de sucesso e uma solução para sua falta de estrutura, já que seus estúdios tinham sido destruidos por incêndios, sobrando apenas o teatro. Paulinho Machado de Carvalho, diretor da emissora, criou uma faixa de programas musicais, que deu muito certo. Mas para completá-la, tirou Solano da Excelsior, onde revelou Elis Regina com "Arrastão" (Edu Lobo e Vinicius de Moraes), e passou a promover festivais.

O canal 7 paulistano crescia em audiência dia a dia, sendo a líder entre as emissoras de São Paulo (naquela época ainda não existia rede). As quatro edições realizadas lá são lembradas até hoje como as mais importantes da história. Porém em 1967, graças ao contexto político nacional, os rumos da MPB foram definidos nos palcos da Record. Grandes nomes foram revelados ali: Gilberto Gil, Caetano Veloso, o quarteto MPB4, Rita Lee e Os Mutantes. Outros se firmaram como talentos inquestionáveis como Elis, Chico Buarque e Edu Lobo.

O surgimento de "Monstros Sagrados"

O Tropicalismo nasceu naquele festival, Roberto Carlos cantou um samba (talvez o único até hoje), a polêmica guitarra elétrica arrepiou o júri, e Sérgio Ricardo quebrou um violão e jogou no auditório, que vaiva sua música "Beto bom de bola". Algumas das canções desta competição são lembradas e cantadas até hoje. Curiosidades: a ordem dos festivais aconteceu independente da emissora. O primiero foi na Excelsior, mas do segundo ao quinto, com o título de Festival de Música Popular Brasileira, aconteceram na Record. Um dos jurados desta edição foi o humorista Chico Anysio.

A classificação ficou da seguinte forma:
  1. Ponteio (Edu Lobo/Capinam) - Intérpretes: Edu Lobo, Marília Medalha e Quarteto Novo
  2. Domingo no Parque (Gilberto Gil) - Intérpretes: Gilberto Gil e Os Mutantes
  3. Roda Viva (Chico Buarque) - Intérpretes: Chico Buarque e MPB4
  4. Alegria, Alegria (Caetano Veloso) - Intérpretes: Caetano Veloso e os Beat Boys
  5. Maria, Carnaval e Cinzas (Luiz Carlos Paraná) - Intérprete: Roberto Carlos
  6. Gabriela (Francisco Maranhão) - Intérprete: MPB4
Elis Regina foi escolhida a melhor intérprete, defendendo a canção "O Cantador", de Dori Caymmi e Nelson Mota. Ah, a apresentação primorosa do festival ficou por conta dos inesquecíveis Blota Júnior e Sônia Ribeiro. É engraçado ver  Blota perguntando para alguém na plateia se o violão jogado por Sérgio o havia machucado. Esse "lançamento instrumental" e toda a competição, de acordo com o livro comemorativo dos 45 anos da Record, rendeu uma audiência de 95% dos televisores, um marco até hoje imbatível.

Uma noite inesquecível

Caetano Veloso, intéprete e autor de "Alegria, Alegria"
Um registro marcante, não apenas para a nossa telinha, mas para a história da nossa música, e até mesmo da trajetória nacional. O povo encontrou uma forma de contestar todo sistema que estava instalado, e reprimindo cada vez mais, através de canções e do talento genuinamente brasileiro.

Vale a pena conferir o documentário sobre este festival, realizado por Renato Terra e Ricardo Calil: "Uma Noite em 67", de 2010. No filme, há depoimentos dos cantores que estiveram naquela noite, de Solano Ribeiro, Paulinho Machado de Carvalho, diretor geral da Record na época, além de relatos sobre os bastidores do programa e outros fatos como a passeata contra as guitarras elétricas.

Vamos rever as vencedoras do III Festival de Música Popular Brasileira, além de "O Cantador" e "Beto bom de bola". Se bem que quem saiu ganhando, na verdade, foi o público!

Agradecimentos: Arquivos1000, ponzaum, Glauco Malagoli, lumathias, Renato Boemer, aoseudisporr, TheM209 e Abril


 "O Ponteio"


 "Domingo no Parque"


 "Roda Viva"


 "Alegria, Alegria"


 "Maria, Carnaval e Cinzas"


 "Gabriela"


"O Cantador"


 A clássica cena de Sérgio Ricardo

CRÍTICA - SANGUE NOVO, PÚBLICO NOVO, TRADIÇÃO RENOVADA

Um fenômeno. Esse foi o adjetivo mais utilizado para definir "Avenida Brasil", novela de João Emanuel Carneiro, que teve seu último capítulo apresentado pela Globo na última sexta (19/10). Não concordo tanto com esse termo. O sucesso de Nina, Carminha e cia. foi resultado creditado mais na pesquisa de mercado, no conhecimento do seu público, e claro no talento de seus profissionais, do que uma mera obra do acaso.

Muitos apostavam, e há quem ainda aposte, que o gênero novela como o conhecemos é demasiadamente ultrapassado, ninguém mais se dispõe a ficar de seis a oito meses acompanhando uma história etc, etc. Atualmente, com a chegada da internet e suas redes sociais, segundo esses mesmos críticos, a tendência é a audiência desses produtos cair gradualmente. Os índices davam mais força para essa opinião. "Laços de Família" (Globo,2000), de Manoel Carlos, registrou média de 45 pontos. Dez anos depois, "Passione" (Globo, 2010), de Silvio de Abreu, fechou com 35 durante sua exibição, segundo dados do IBOPE.

Neste intervalo também aconteceram suas exceções, como "Senhora do Destino". Escrita por Aguinaldo Silva em 2004, a novela alcançou em média 50 pontos. Mas como explicar o sucesso dessas duas histórias em especial, junto a uma geração que não tem na televisão a sua única diversão? O roteiro e o reconhecimento da transformação de uma sociedade pela emissora.

A ascensão da chamada classe C sacudiu a economia nacional em todos os sentidos. Não poderia ser diferente com a televisão. As novelas produzidas pela Globo sempre mostraram um Brasil rico, calcado no pensamento de que todo mundo gosta do luxo, especialmente quem não vive nele. A estabilidade monetária e o aumento do poder aquisitivo do trabalhador, permitiu uma renovação no público consumidor de novela. O povo quer se ver na TV, mas não como figurante, como acontecia antes, e sim protagonista. Os bairros do Leblon e Ipanema agora devem dar espaço para o subúrbio carioca, assim como as demais periferias brasileiras.

"Avenida" parou a presidente do Brasil

Quanto ao reconhecimento regional, a emissora dos Marinho já avançou um pouco. "Cheias de Charme" foi uma trama produzida com elementos atrativos especialmente ao povo de Belém do Pará, onde a audiência do horário das 19h estava numa séria crise. "Avenida Brasil" colocou o brasileiro comum como estrela principal de seu enredo. João Emanuel vem provar que é necessário sangue novo no time de autores da teledramaturgia nacional. Sua novela também mostrou que sim, um folhetim ainda é capaz de prender a atenção do público por sete meses, mesmo com internet! Aliás, as redes sociais eram um complemento para os telespectadores. Milhares de pessoas assistiram ao seu desfecho fazendo comentários em suas páginas pessoais nestes sites.

Porém a maior confirmação de que o formato ainda é forte foi a mobilização nacional que provocou. Bolões de apostas foram feitos aos milhares, para adivinhar quem foi o assassino de Max (Marcelo Novaes). Várias pessoas saíram apressadas de seus trabalhos para chegar mais cedo em suas casas, para não perder a novela. Até a presidente Dilma Rousseff deu um jeitinho na agenda para assistir a conclusão da trama do fictício bairro do Divino.

O público que consome novela mudou, e a Globo despertou para essa realidade. Claro que sua iniciativa não foi pioneira. A Record já havia dado o "tratamento global" para novelas mais populares, como "Prova de Amor"(2005) e "Vidas Opostas"(2006). Mas como a líder de audiência possui o chamado "know-how"(conhecimento) e o talento, não apenas artístico, mas também técnico, os reflexos dessas implementações ganham dimensões gigantescas. O segredo está em conhecer o público para quem se está falando, e um bom roteiro sempre, pois no caso das novelas, o hábito já está mais que consolidado e seguirá assim por muitos anos. Até a reviravolta do próximo capítulo. Agradecimentos: TV Globo.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

UM MALLANDRO EM FORMA DE GURI

Sérgio Mallandro em "Oradukapeta", no SBT, há 25 anos
O irreverente Sérgio Mallandro começou em televisão por acaso, convidado por Wilton Franco, o diretor de "O Povo na TV", no ar pela TVS-Rio. Não demorou muito até Silvio Santos chamá-lo para integrar o júri do "Show de Calouros". O animador viu naquele jurado um promissor apresentador de programas infantis.

Um verdadeiro sheik no harem da TV para baixinhos, repleto de apresentadoras, Sérgio estreou em 1987 o programa "Oradukapeta", um dos grandes sucessos de sua carreira e do SBT. Foi o primeiro apresentador masculino de programas infantis da emissora a aparecer "de cara limpa", ou seja, que não era um personagem como o Bozo. Mallandro no palco era tão criança, ou mais, do que a platéia que frequentou os estúdios da Vila Guilherme.

Além de vários desenhos animados, brincadeiras e sorteios, o programa tinha quadros como o goleiro Mallandroviski, o maior frangueiro de todos os tempos, que desafiava os meninos no chute a gol no palco. Também tinha o Super Mallandro, um super heroi atrapalhado, que sempre acabava arrumando confusão. Além dos bonecos anjinho, capetinha e o carteirinho, que trazia as correspondências da atração.

O quadro que mais marcou a trajetória do apresentador nasceu neste programa: "Porta dos Desesperados". Essa sátira ao quadro "Porta da Esperança" de Silvio Santos proporcionava para as crianças muitos brinquedos, jogos e bicicletas, ou um baita susto com um dos dois monstros que podiam sair das três portas. A molecada podia participar no palco ou em casa através de cartas. Mas para ser escolhido tinha que estar muito desesperado, gritar, se jogar no mar e se esgoelar depois de ver um tubarão, uma baleia, um polvo, um caranguejo, uma cobra, uma aranha (essa liberdade criativa é do Sérgio, não minha!!!) e muitos outros.

Não demorou muito e o apresentador também estava gravando discos para a garotada. Canções recheadas de "glu-glu", "yeah-yeah", "chu-chu", os bordões de Sérgio no programa, em pouco tempo estavam na boca da galerinha. Aliás, se nessa época, auge do "Xou da Xuxa" na Globo, era comum encontrar na rua várias "xuxinhas", graças ao "Oradukapeta" era possível encontrar diversos "mallandrinhos", usando macacão, tênis e boné de lado.

Mallandro sempre encerrava seu programa "deixando o seu coração" através de uma mensagem de otimismo e confiança no futuro dos brasileirinhos. O infantil ficou no ar nas manhãs do SBT até 1990, quando Sérgio Mallandro foi convidado pela Globo para ocupar o horário de Chacrinha, falecido em 1988, nos sábados.

Curiosidade: Xuxa e Sérgio Mallandro se conhecem desde muito jovens, no Rio de Janeiro. Os dois participaram juntos de "Cidade Contra Cidade", onde Silvio deu o nome artístico do futuro jurado e apresentador. Essa amizade permitiu que a Rainha dos Baixinhos levasse a "Porta dos Desesperados" para o seu programa "El Show de Xuxa" na Argentina.

Quem não viu vai ver, e quem já viu var de novo a abertura, alguns trechos e a famosa porta de prêmios e sustos de "Oradukapeta"

Agradecimentos: hkuniochi, elvisn, BAUDATV e Geração8090/SBT






sábado, 6 de outubro de 2012

OS AMADOS TRAPALHÕES

"Os Trapalhões" na sátira do seriado "S.W.A.T"
Agora vou mexer com a memória emotiva de muito marmanjo. Em 2012, Didi, Dedé, Mussum e Zacaria iriam completar 35 anos de TV Globo. O programa "Os Trapalhões" estreou nas noites de domingo exatamente no dia 13 de março de 1977.

A chegada do quarteto se deu num momento delicado da Globo. A emissora era líder absoluta em todos os dias e horários, menos nos domingos, durante a exibição do "Programa Silvio Santos", pela Rede Tupi, TV Record e TVS. José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, então superintendente artístico e operacional do canal, viu naquele grupo a salvação de sua audiência, que também subia com o "Fantástico".

Antes de migrar para a emissora dos Marinho, os comediantes estrearam o formato original da atração em 1966, na TV Excelsior de São Paulo, com o nome de "Adoráveis Trapalhões". A formação também era outra: o cantor Wanderley Cardoso, o ator Ivon Cury, o lutador Ted Boy Marino e o bacharel em direito (!) Renato Aragão compunham a trupe. Em 1972, já com Dedé e Mussum, Renato passa para a TV Record, e o nome do programa muda para "Os Insociáveis", que não lhe agradava. No ano de 1975, com o nome que os consagraria, os trapalhões, com Zacaria, se mudam para a Rede Tupi.

Quando recebeu o convite de Boni, Renato não aceitou de primeira. Achava que seria podado, que não teria a liberdade que possuía na Tupi, por causa do "Padrão Globo de Qualidade". Bolou uma lista de exigências, em três páginas, nos quais determinava inclusive quem seria o diretor, o redator e a que horas iria ao ar o programa. O diretor aceitou sem fazer perguntas, para surpresa do humorista.

Uma equipe nada atrapalhada

As "baianas" em cena no programa da Globo, em 1977
Os Trapalhões chegaram na telinha do plim-plim em dois especiais, apresentados em janeiro e fevereiro de 1977, dentro da "Sexta Super", o programa de especiais da época. Grandes profissionais dirigiram o humorístico. Dentre eles Augusto César Vannucci (Pai do Rafael Vannucci), Carlos Manga, Maurício Sherman (hoje no "Zorra Total"), Wilton Franco (também diretor de "O Povo na TV", da TVS) e Paulo Aragão (filho de Renato Aragão). Outros talentos de igual importância eram os redatores: Arnaud Rodrigues, Carlos Alberto de Nóbrega, com a supervisão de criação de Chico Anysio. Um time de primeira!

Em meados de 1983 houve um desentendimento entre Renato e os demais companheiros, e se separaram. Didi passou a estrelar sozinho o dominical. Dedé, Mussum e Zacaria ficaram em outro horário. Essa história durou seis meses, e por iniciativa própria, os humoristas decidiram juntar-se novamente. De 1982 a 1992 os Trapalhões também improvisavam com a plateia presente no Teatro Fênix, talvez a melhor fase do programa. Nessa época surgiu o "Quartel do Sargento Pincel" (Roberto Guilherme), o "Trapa Hotel", a "Agência Trapa Tudo" e a "Vila Vintém", com uma clara referência do filme The Kid (O Garoto, 1921), de Charles Chaplin. O auditório voltou à atração em 1995, mas encontrou um cenário bem diferente de antes.

Mauro Gonçalves, o Zacaria, faleceu em 18 de março de 1990, de insuficiência respiratória, meses antes do início da nova temporada. Quatro anos depois foi a vez de Antônio Carlos Bernardes Gomes, o Mussum, partir para o andar de cima em 29 de julho. Após um transplante cardíaco, o humorista teve uma série de complicações no coração, e não resistiu. Os dois desaparecimentos abalaram muito Didi e Dedé, que seguiram com o programa, apenas apresentando reprises. "Os Trapalhões" saiu do ar 1997, completando 20 anos na Globo, e 31 anos de existência.

Recordistas da Telona

Lucinha Lins com Didi, Dedé, Mussum e Zacaria no filme
"Os Saltimbancos Trapalhões" (1981).
Entre 1998 e 2000, a emissora reapresentava durante meia-hora, os melhores momentos dos Trapalhões. Essa "sessão nostalgia" voltou em 2010 para comemorar os 50 anos do personagem de Renato Aragão no seu dominical "Aventuras do Didi". Foi nesse programa, que antes se chamava "Turma do Didi", que em 2008 o humorista e Manfried Sant'anna, o Dedé, se reencontraram, após 15 anos separados.

Curiosidade: o nome correto do personagem de Mauro Gonçalves era Zacaria, e não Zacarias. O nome veio de um galo que o ator possuía quando era criança. Uma ação judicial por direitos autorais, movida pela família de Mauro, contra a Editora Abril, fez o nome perder o "S" final de sua grafia. A empresa publicou por alguns anos a revista em quadrinhos dos Trapalhões, que também viraram brinquedos, discos e, principalmente, filmes.

De 1978, quando o quarteto estrelou o primeiro longa-metragem ("Os Trapalhões na Guerra dos Planetas"), até 1991, já no último filme de Mussum ("Os Trapalhões e a Árvore da Juventude"), foram 24 produções cinematográficas. Na conta não estão os dois filmes que foram realizados na época da separação, em 1983. O grupo está até hoje na lista dos dez filmes brasileiros mais vistos no país, com quatro histórias diferentes, todas com público acima de cinco milhões de espectadores.

Nos vídeos que selecionamos, você vai ver dois momentos clássicos do programa: o show de calouros com a filha do velho Faceta, e a paródia da música Terezinha, cantada por Maria Betânia. Também separamos um quadro do "Quartel do Sargento Pincel", um depoimento de Renato Aragão sobre o quarteto, e a polêmica previsão do futuro dos quatro comediantes em 2008, produzida no programa 25 anos antes. Esse quadro nunca foi reprisado pela Globo.

Agradecimentos: Época, Veja, re49045fe, TVeCinema, Brasiltelevision2010, tvrips, Fasperito, luciointhesky.wordpress.com e TV Globo

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

CRÍTICA - AUDIÊNCIA DA QUALIDADE

Um dos últimos programas "Hebe" na RedeTV
O falecimento de Hebe Camargo coloca um ponto final em um capítulo importantíssimo na história da televisão no Brasil. Muita coisa foi publicada, exibida e falada sobre a rainha da TV. Mas algo me chamou a atenção no meio de tudo isso. Nos últimos programas, Hebe chegou a registrar 1 ponto de média na Rede TV!

Também nessa revirada no baú da história da telinha, foi ressaltado que a fase áurea da apresentadora aconteceu no final dos anos 1960, quando era contratada da TV Record. Seu dominical chegou a atingir 72 pontos de audiência. Da Record a RedeTV! , passando pelos quase 25 anos de SBT, onde sua carreira ganhou dimensões nacionais e até internacionais, seu programa não mudou muito. O mesmo sofá estava lá, acomodando personalidades, políticos, artistas e os grandes sucessos da nossa música. O que mudou apenas foi a loiruda, que só melhorou com o passar dos anos.

Então o que explica uma Hebe Camargo encerrar sua carreira com pouco mais de 60 mil telespectadores (valor equivalente a cada ponto de audiência, na Grande São Paulo, pelo IBOPE), em seu último programa inédito, em junho deste ano? Bradamos aos quatro ventos: "Queremos qualidade na televisão!!!" Será mesmo?

Em seus mais de 50 anos à frente de uma atração, Hebe jamais levou ao ar qualquer coisa que ofendesse ou agredisse a família. Talvez a única derrapada tenha acontecido em meados dos anos 1990, quando apresentou um desfile de moda praia, com modelos usando biquinis e sungas estampados com imagens de santos católicos. Tamanho foi o burburinho, que a apresentadora (católica fervorosa) se desculpou na semana seguinte. Comparado ao que vemos na televisão atualmente, isso é "café pequeno".

Outros programas de qualidade também possuem baixos índices de audiência. E quando me refiro a qualidade, não quero dizer que a atração deva ser educativa. Também sei que hoje, a audiência da televisão está muito pulverizada, pelo número de canais existentes e pela concorrência com novas mídias como a internet. Mesmo assim, alguns dos campeões de IBOPE também são os primeiros em apelação, violência e sensualidade barata e vulgar.

A categoria da nossa TV no exterior é das mais altas. E não estou falando apenas das novelas. Existe muita coisa ruim? Sim. Mas também existem opções boas que só valorizamos quando desaparecem da telinha. Hebe não se preocupava com a audiência de seu talk show. Ainda no SBT declarou, certa vez, que para ela bastava que o programa atingisse 10 pontos de média. Nunca lhe foi cobrado isso, mas essa responsabilidade era repassada aos seus diretores.

Hebe se foi. Nunca mais haverá alguém como ela. Não existe substituta à altura. Seu sofá, com sua gargalhada linda de viver agora permanece na história como uma lembrança de uma era da nossa TV. E nós? Vamos continuar a clamar por melhoria na programação, e menosprezar a qualidade que já existe, com baixos índices de audiência? Vale a reflexão.

Agradecimentos: Divulgação RedeTV!