quinta-feira, 5 de julho de 2012

A COPA DA GLOBO... E DA CULTURA

Há trinta anos, o mundo via uma das melhores seleções de craques brasileiros reunidos para uma Copa do Mundo voltando para casa. Waldir Peres, Oscar, Edinho, Luisinho, Toninho Cerezo, Júnior, Renato, Sócrates, Leandro, Juninho, Carlos, Edevaldo, Zico, Paulo Isidoro, Batista, Serginho Chulapa, Paulo Sérgio, Dirceu, Éder, Careca, Pedrinho e Falcão, sob a brilhante regência do técnico Telê Santana, tinham tudo para trazer o caneco para terras tupiniquins. Mas a Itália e o furacão Paolo Rossi adiaram o sonho do Tetra, que se realizaria doze anos depois. A bota europeia se consagraria Tri-campeã naquele ano.

Mas por que um blog sobre história da televisão está falando do Mundial de 1982? Foi nesse torneio que Rede Globo liberou o seu exclusivo sinal de transmissão do evento para outro canal: a TV Cultura de São Paulo.

Em tempos passados, até mesmo pela falta de recursos técnicos e de grana, a situação poderia acontecer sem maiores problemas. A Globo transmitiu a gloriosa Copa de 1970 juntamente com a Rede de Emissoras Independentes, a REI (da qual a Record fazia parte), e a Rede Tupi de Televisão. Existia apenas um sinal de vídeo e um áudio. Os três locutores, cada um por uma rede, dividiam a cabine e o microfone ao vivo, durante a partida. Sorte de quem estivesse narrando o momento exato de um gol de Pelé! Em 1974 e 1978 as estações transmitiram juntas, mas cada uma com a sua equipe e sua cabine. Essa união de emissoras para a cobertura de eventos internacionais como Copa do Mundo e Olimpíadas é chamada de pool.

Quem paga, leva!

O primeiro mundial de futebol da década de 1980 aconteceu com um cenário nada animador na TV brasileira. A Globo era a líder, a Tupi tinha fechado há pouco tempo, a Record trabalhava em conjunto com a novata TVS que não podia investir em tal evento neste momento, e a Bandeirantes começava a expandir a sua rede. Dinheiro não estava muito fácil entre os donos de televisão.

De acordo com a revista Veja, de 22 de julho de 1981 (edição 672), a OTI (Organização das Televisões Ibero-americanas) vendeu os direitos da Copa 82 para o "plim-plim" e a Cultura pois foram as únicas que, juntas, pagaram o valor cobrado para o grupo de TVs brasileiras: 100 milhões de cruzeiros, uma fortuna! A conta foi divida entre as duas, já que as outras desistiram. Com tanta desvalorização monetária que se deu de lá pra cá, nem vale a pena dizer o quanto isso vale atualmente, de tão pequeno que é o valor! Além disso, quem transmitisse as Olimpídas de Moscou (1980), teria direito a televisonar o evento máximo do futebol mundial. Só deu Globo também.

A RTC (Rádio e Televisão Cultura), como era denominado o canal da Fundação Padre Anchieta, não tinha equipe para enviar para a Espanha. A Rede Globo liberou então o seu sinal totalmente, com locução de Luciano do Valle, estreia da Câmera Exclusiva e tudo, para ser retransmitido, não apenas por São Paulo, mas por todas as emissoras educativas do país. Assim, a Globo garantiu que a Copa do Mundo fosse assistida por (quase) todo o Brasil, seja pela sua rede ou pela rede educativa.

Censura cultural

Os técnicos da Cultura tiveram um certo trabalho em "censurar" os patrocinadores globais, que surgiam durante a transmissão. Uma tarja preta aparecia sobre as marcas dos anunciantes da emissora carioca. Também durante as partidas, os profissionais da TV educativa buscavam colocar no alto do vídeo o logotipo da RTC, sempre no lado oposto ao da Globo. Este foi o último mundial transmitido pela Fundação Padre Anchieta.

Confira algumas imagens resgatadas pelo programa "Grandes Momentos do Esporte", da Cultura, da partida que carimbou o passaporte de volta da seleção canarinho. O jogo acabou Brasil 2X3 Itália. Neste vídeo você confere o logo da RTC e da Globo.

Tá certo, não é das melhores recordações para a torcida brasileira, mas é um registro importante de um momento da nossa TV. Tudo tem seu lado positivo, por menor que seja!

Agradecimentos: parmaf12 e wn.com, TV Globo/TV Culura

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