sábado, 3 de novembro de 2012

NOITES VIVAS NO SBT

Gugu Liberato no começo de "Viva a Noite"
Uma mistura de dois programas latinos, um americano e o jeitinho brasuca de fazer televisão renderam um dos maiores sucessos da nossa telinha e lançou um dos mais respeitados animadores deste país. Em 9 de novembro completam-se 30 anos da estreia de "Viva a Noite" nos sábados do SBT.

Pouco tempo depois do primeiro aniversário da então TVS, Silvio Santos queria um programa animado, alegre e descontraído para as noites de sábado. Chamou uma produtora argentina, Nelly Raymond, que já conhecia de outros trabalhos anteriores, e encomendou o projeto. Nelly pensou em reunir elementos de "Saturday Night Fever" americano, "Sabado Fiebre" e "Hoy Quien Danza es Usted" mexicanos.

Depois de algumas reuniões, ficou decidido que o programa seria dividido em três partes: um festival de música latino americana, o esotérico "Noites de Mistério" e o "Hoje Quem Dança é Você". A produtora pensou em três apresentadores conduzindo a atração. Para o festival ficou escolhido Ademar Dutra, que já apresentava provas externas no "Cidade Contra Cidade". O esotérico Jair de Ogum foi chamado para comandar o "Noites de Mistério".

Faltava um apresentador, e o diretor Homero Salles, dentro do projeto desde o início, sugeriu um nome que estava começando, atendendo aos telespectadores pelo telefone numa sessão de filmes: Augusto Liberato. Nelly gostou da evolução do garoto que conheceu como office-boy nos anos 1970 na Globo. Aceitou a sugestão. Mas Gugu não foi uma unanimidade na diretoria do SBT. Muitos executivos da empresa acharam um erro indicar um rapaz tão pouco conhecido, com tantos nomes no mercado. Em pouco tempo veriam que estavam errados. O jovem apresentador conduziria o concursos de danças. O nome da atração surgiu naturalmente: "Viva a Noite"

Sonhos de uns, diversão de outros

A cantora Joana, na segunda fase do semanal
Com o passar dos meses, o festival de músicas e o esoterismo perderam espaço para as mulatas rebolativas do carismático Gugu, que ganhou o comando do programa. A partir de então, "Viva a Noite" passou a ser a grande opção do sábado. Em seus primeiros anos, o programa era realizado ao vivo, no Teatro Silvio Santos no Carandiru, zona norte paulistana. Aproveitando-se disso, o animador pedia para que as pessoas trouxessem as mais diversas quiquilharias em troca de prêmios em dinheiro.

A "Cabine Milionária" ficou famosa nesta época. O sujeito tinha que dançar vários ritmos diferentes sem parar, durante todo o programa! Muitas eram as brincadeiras realizadas no palco, com os competidores do concurso de danças. Para auxiliar o animador no palco, belas moças estavam prontamente dispostas a ajudá-lo. Marriette, Silvinha e Alessandra Scattena ficaram famosas em todo o país graças ao programa. Também ficou conhecido o romance que o loirinho teve com Rose Miriam (a futura mãe de seus três filhos) e Silvinha, com quem quase se casou, além de um rápido namoro com Scattena.

O "Sonho Maluco nasceu nesta época. Uma fã mandava uma carta para o programa, pedindo para realizar seu mais pirado devaneio com seu artista favorito. Teve de tudo: homem casado tomando banho no palco com Rita Cadillac (com a esposa assistindo), tapinha no bumbum da jurada Wilza Carla, valsa de 15 anos com Luis Ricardo, banho de champagne com Sula Miranda, lambuzar Simony com glacê, escrever versinhos nas costas do Polegar Rafael Ilha e muitos, muitos outros. Nem Gugu escapava! Ele "salvou" uma fã de um "prédio em chamas", vestido de Superman, "casou-se" com a comediante Nhá Barbina e atravessou um túnel de fogo. Neste último o apresentador correu sério risco de morrer asfixiado com a roupa anti-chamas.

Depois dessa, o animador preferiu deixar os perigos para os candidatos a Rambo Brasileiro! Os marmanjos marombados fizeram sucesso, elevando este concurso criado no semanal ao mesmo patamar do Miss Brasil, que estava com Silvio no SBT. Os participantes bezuntados com óleo faziam poses de fisiculturismo usando o mesmo figurino consagrado por Sylvester Stallone no cinema. A mulherada delirava!!!

Passarinho quer dançar

O grupo Dominó no cenário mais marcante do programa
Também eram muito divertidas as provas disputadas pelos times masculino e feminino. As equipes formadas por artistas se enfrentavam na prova do desenho, a face oculta, torre de taças, declaração de amor, prova da bexiga, o que é o que é, mímica, e várias outras.

Todos os grandes nomes da música batiam ponto no programa. De Ronnie Von a Gretchen, passando por Léo Jaime, Sandra de Sá, Trem da Alegria, Titãs, Luis Caldas, As Paquitas, Patrícia Marx, Joana, Adriana, Jairzinho e Simony, e muitos mais. Além das crias da Promoart, empresa de Gugu: os grupos Dominó, Polegar e Banana Split. Destaque para a primeira apresentação do fenômeno Menudo no Brasil. O grupo de Porto Rico entrou no palco da atração, ao vivo, de bicicleta, com uma multidão de meninas histéricas fora e dentro do estúdio.

Gugu foi incentivado a gravar musiquinhas para animar o programa. A primeira foi "Docinho Docinho", depois veio "Baile dos Passarinhos", que encerrava o programa e virou febre nacional. O apresentador ouviu a versão em espanhol da música pela primeira vez num hotel cinco estrelas em Itaparíca na Bahia, e pensou: "Se essa gente rica não resiste, imagine o povão". Outras canções vieram como "Pega o meu Peru", "Dança da Galinha Azul" (o melhor merchandising que já vi), "Bota Talquinho" etc.

A volta dos que não foram

A cantora Gil e convidados no retorno da atração
Com o crescimento de audiência, o investimento também cresceu. "Viva a Noite" passou a desbancar os filmes exibidos pela Globo no horário. A emissora carioca não perdeu tempo, e contratou o animador no final de 1987. Mas em 1988, temendo perder sua voz, seu possível sucessor e audiência, Silvio Santos conversou pessoalmente com Roberto Marinho, com quem não falava então há 15 anos, para liberar Gugu. De volta ao SBT, o loirinho ganhou mais espaço para anunciar seus shows e produtos e foi parar no domingo, dividindo por quatro horas o "Programa Silvio Santos" com o mestre e patrão.

A chegada de Liberato aos domingos, e o desgaste natural da atração, colocaram um ponto final no "Viva a Noite" em 1992. Seu formato seria aproveitado para a criação do "Domingo Legal", em 1993. O programa seguiu sendo amado pelos seus fãs e por admiradores da cultura dos anos 80. Esse movimento fez o SBT trazer de volta o semanal em 2007, com Gilmelândia, Supla e Bruno Chateaubriand. Mas como nem tudo do passado funciona no presente, a segunda versão foi cancelada em 2008.

Curiosidade: você já deve ter notado que no começo da carreira, Gugu usava o microfone do Silvio Santos. Outros apresentadores da casa na época, como Raul Gil, J. Silvestre e Sérgio Chapellin, também o utilizaram. Porém a ideia nesta atração, que partiu do patrão, era ter a cada semana um "clone" dele apresentando o programa. O iniciante animador deixou de usar o equipamento em 1985, aproveitando a mudança de cenário, e passou a usar um microfone de lapela. Pouco tempo depois aderiu a um modelo de mão. Os "queijos", como são chamadas em cenografia as bases redondas onde ficavam as bailarinas, com bambolês que giravam em volta das moças a cada música, foi copiado do filme "Superman", de 1978.

Vale muito a pena ver e rever a abertura do programa, alguns sonhos malucos, algumas provas da gincana "eles e elas", e o Baile dos Passarinhos, que encerrava o "Viva a Noite". Agradecimentos: Abril, reprodução/SBT, hkuniochi, 8desetembro, claudiard1981, 9desetembro e FESTA388.
















2 comentários:

  1. Danilo, obrigada pela menção honrosa dos agradecimentos em sua matéria! Valeu mesmo! Até hoje sou fã do 'Viva a Noite' e sempre posto algumas coisas que tenho do programa em meu canal! :)

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    1. Não tem do que agradecer, Claudia. São com contribuições como a sua, através da sua videoteca, que podemos matar a saudade de programas inesquecíveis e contar, com a importância que merece, a história da TV brasileira. Muito obrigado pela visita e pelo prestígio de sempre!!!

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