quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

ESPECIAL RECORD 60 - A MÚSICA ESTÁ NO AR

Elis e Jair em "O Fino da Bossa"
"Prepare o seu coração, para as coisas que eu vou contar". A Record deve muito dos seus 60 anos de sucesso à música popular brasileira, mas o cenário musical também deve ser muito grato ao canal 7 paulistano. Desde o seu começo em 1953, a emissora sempre valorizou e revelou cantores, cantoras e conjuntos nacionais e internacionais.

Já na sua inauguração, Sandra Amaral e Hélio Ansaldo apresentam o musical "Grandes Espetáculos União" (naquela época o patrocinador dava o nome para muitas atrrações, como o "Repórter Esso"). Os primeiros anos do canal foram marcados pelo glamour dos grandes nomes que se apresentavam pelos quatro cantos do mundo, e vinham para a Record com absoluta exclusividade: Bill Halley e seus Cometas, Sarah Vaughan, Louis Armstrong, Steve Wonder, Nat King Cole, Marlene Dietrich, Rita Pavone, Amália Rodrigues e muito mais.

A Rádio Record já possuía sob contrato grandes cantores brasileiros, e eles também garantiram seu espaço no programa "Astros do Disco", com Randal Juliano. A atração trazia também os grandes campeões de venda para cantar seus sucessos nas noites de Sábado da TV. Foi em "Astros do Disco" que surgiu o Troféu Chico Viola, um dos mais importantes da música, na época.

Os anos 1960 foram dourados, graças ao casamento entre a Record e a MPB. A partir de 1963, quando a novela brasileira passou a ter capítulos diários, os folhetins viraram uma febre, da qual o Brasil não se curou até hoje. Na época, Tupi e Excelsior eram as grandes produtoras do gênero. Paulo Machado de Carvalho Filho, herdeiro do fundador e diretor artístico da casa, juntamente com sua equipe de produtores, dentre eles o autor Manoel Carlos e o diretor Nilton Travesso, criou uma faixa de musicais que entrou para a história da televisão.

É uma "brasa" cantar no 7!!!

Roberto Carlos no palco do Teatro Record
A "pimentinha" Elis Regina e Jair Rodrigues comandavam "O Fino da Bossa". Os novos nomes da MPB, surgindo pela Bossa Nova, se apresentavam semanalmente no Teatro Record. Artistas como Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Maysa, Vinícius de Moraes, Nara Leão, Maria Bethânia etc, marcavam presença na atração. Os saudosistas se deliciavam com os convidados dos cantores Elizete Cardoso e Ciro Monteiro em "Bossaudade". Elizete também comandou o "Sambão", onde o ritmo do morro tomava conta da telinha. Outro cantor que também ganhou programa na Record foi Wilson Simonal, que apresentava o "Show em Si...monal".

A moçada curtia carrões, brilhantina, e iê-iê-iê no programa "Jovem Guarda". Roberto Carlos, Erasmo Carlos (o "tremendão) e Wanderlea (a "ternurinha") traziam todos os domingos os lançamentos que a galera ouvia no rádio. Jerry Adriani, Waldirene, Eduardo Araújo, Os Vips, Silvinha, Martinha, e muitos outros eram recebidos aos gritos pela histérica plateia juvenil. Este programa nasceu em 1965 para preencher a lacuna deixada pelo futebol à tarde, já que a emissora tinha sido proibida de transmitir os jogos para não esvaziar os estádios. A atração foi tão forte que o movimento ganhou o nome de Jovem Guarda.

Não dá pra falar em MPB na TV sem ao menos citar os Festivais da Música Popular Brasileira. Até hoje, os melhores foram produzidos pelo canal 7 paulistano. De 1966 a 1969 o cenário musical nacional foi transformado, e nunca mais foi o mesmo. Grandes nomes e inesquecíveis canções nasceram naqueles teatros e são referência para novos talentos até hoje. De Hebe Camargo a Tom Zé, de Agnaldo Rayol a Chico Buarque, de Elis Regina a Roberto Carlos, todos os "mosntros sagrados" passaram por aqueles palcos.

"'Caba' não, mundão!!!"

Marcelo Costa recebe Wanderlea no "Especial Sertanejo"
Os comunicadores populares, que ganharam fama trazendo cantores em seus programas, também tiveram espaço na Record. Chacrinha e Bolinha, com seus inigualáveis estilos, também deram suas contribuições a essa história.

O sertanejo também não foi esquecido pela emissora. Inezita Barroso foi a primeira mulher a ter um programa solo no canal 7, trazendo seus convidados que cantavam o que havia de melhor na chamada "música raíz". Com a evolução do gênero, outros apresentadores surgem como Geraldo Meireles e, mais tarde, o cantor Marcelo Costa com seu "Especial Sertanejo". Renato Barbosa apresentou a parada de sucessos "Quem Sabe... Sábado" e também produziu "Amigos & Sucessos", onde um artista apresentava os maiores êxitos de sua carreira, recebia convidados, e ganhava uma homenagem de amigos e familiares.

Nos últimos dez anos, a televisão deixou um pouco de lado o gênero puro deste tipo de atração. Os cantores Chitãozinho & Xororó foram os últimos a apresentar na emissora um programa neste estilo, o "Raízes do Campo". Mas a história da Record mostra que, se bem produzido, uma musical pode valer muito mais do que mil imagens. No mês que vem, falamos sobre os programas de auditório.

Pra matar a saudade, vamos ver a apresentação de "Disparada", com Jair Rodrigues, e "A Banda", de Chico Buarque, as finalistas do festival de 1966. Diante do impasse, os jurados decidiram que as duas músicas eram as vencedoras daquele ano, um empate que nunca mais se repetiu na história. Agradecimentos: Bruno Kampel, naramaielis e TV Record.






domingo, 24 de fevereiro de 2013

CRÍTICA: O DESAFIO DO GUGU

Aproveitando a estreia, Gugu adotou um visual mais esportivo
Neste Domingo, a Record estreou o quadro "Desafio Musical", a nova versão do clássico "Qual é a Música", apresentado por Silvio Santos durante quase 20 anos. A disputa entre artistas foi gravada por Gugu Liberato durante a semana, e exibida no final de seu  programa dominical. O restante da atração foi ao ar ao vivo, seguindo a mecânica usada para a "Escolinha do Gugu".

Somente duas provas eram desconhecidas do público: "Kazoo", uma espécie de apito, na qual os convidados cantarolam canções que estão ouvindo por um fone, e "Foto Musical", onde os participantes, ao escolherem uma fotografia poderiam tentar adivinhar o nome da música do artista estampado ou passar a pergunta para o time adversário.

Vale ressaltar o esforço da produção em fazer com que o "Desafio Musical" em nada lembrasse o quadro conduzido pelo dono do SBT de 1976 a 1991, com volta entre 1999 e 2002 e um último retorno em 2007. Todos os jogos receberam nova roupagem. Não tem três interpretes para o jogo dos versos (apenas uma), muito menos os famosos dubladores maquiados. Até a participação da plateia foi repaginada. Duas assistentes de palco, com um microfone cada, iam até as moças do auditório que sabiam as respostas corretas.

O visual dos quadros foi modernizado. No lugar da orquestra, um DJ disparava todas as músicas usadas nas brincadeiras, inclusive as notas do leilão, a disputa final da atração. Porém algumas coisas foram mantidas, como o trio masculino e feminino que se enfrenta, e a clássica pergunta ao DJ-maestro: qual é a música?

Não é a primeira vez que a emissora da Barra Funda adapta um programa estrangeiro, já conhecido por aqui. Em 2009, o canal 7 comprou os direitos de "O Preço Certo". Apresentado pelo ator Juan Alba e pela jornalista Débora Santilli, o game show foi exibido diariamente nas tardes da programação, até meados de 2010. Mas esta atração já havia sido produzida no Brasil também por Silvio Santos, na década de 1980, inclusive com o mesmo título. 

Silvio Brito, Silvio Santos e Fafá de Belém na versão de 1976

A aquisição de "Name That Tune" (Nome desta música), o formato original da atração, é a resposta que a Record deu a uma pesquisa com telespectadores, sobre o "Programa do Gugu". O público quer o apresentador mais presente no palco do Teatro Record, e a participação maior de artistas convidados.

A audiência correspondeu durante a "novidade". Pouco tempo depois de encerrado o dominical, o diretor Homero Salles, em seu Twitter, anunciou que a atração terminou "com o dobro da terceira colocada, a quatro décimos da líder". Mas não foi o suficiente para deter Eliana e o SBT. Segundo dados preliminares, a loirinha fechou com 6,8 de média contra 5,9 da Record. A Globo liderou no período com 12,9.

Quando o apresentador surgiu na emissora de Silvio Santos como sucessor do patrão, a imagem de Gugu era idêntica a do homem do Baú. Até mesmo o microfone era o mesmo! O que o diferenciava eram as novidades que trazia no "Viva a Noite". Os quadros bolados pela equipe e pelo ex-produtor eram diferentes, mas mantinham a essência popular de Silvio. Gugu foi contratado com 14 anos pela sua criatividade.

Ainda é muito cedo para dizer se a estratégia será vencedora. Televisão é hábito. Apostar em uma atração já conhecida e consagrada é algo arriscado. O público pode se cansar muito rapidamente, ou não. Sem contar as inevitáveis comparações. Mas já é positivo o fato do programa não encerrar com lágrimas dos quadros emocionantes que vinha trazendo ultimamente. O telespectador quer terminar seu final de semana com bom humor. Afinal, tristeza por tristeza, basta lembrar que a Segunda está chegando!

Imagens: UOL e Divulgação/TV Record.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

CRÍTICA: VALE A PENA FAZER DE NOVO?

A família Bozo está de volta aos sábados do SBT
A estreia do "novo" palhaço Bozo no SBT, na manhã deste sábado, não é apenas mais uma das decisões incompreendidas de Silvio Santos. O resgate do infantil, que foi sucesso há 30 anos, é uma tendência de algumas emissoras no mundo: não arriscar em novidades.

De uns anos pra cá, vários canais de televisão tem lançado mão de textos antigos, formatos engavetados, e em algumas situações reprises puras e simples, para suprir a falta de criatividade de seus atuais roteiristas, ou a aposta em sangue novo. Você pode alegar que sempre fizeram isso. E mais, pode até me criticar: "como um jornalista que escreve sobre história da TV pode achar ruim o resgate de programas antigos?"

Calma, eu me explico. Entrevistando a ex-repórter do "Aqui Agora" Magdalena Bonfiglioli, em um dado momento, ela me disse por que não sentia saudades do telejornal popular do SBT. "Não posso sentir saudades de algo que cumpriu o seu papel e fez sucesso no seu tempo. O passado é útil demais para pautar o presente e criar o futuro. Mas o futuro deve ser criado", disse a jornalista.

Diante de um novo público, conectado à internet e com uma variedade de opções muito maior do que há 20 anos atrás, a TV aberta prefere recorrer à memória afetiva dos telespectadores. Os mais recentes remakes de novelas da Globo são antigos sucessos das 19h, uma faixa dedicada principalmente a um público mais jovem. Seus clássicos, como "O Astro", "Gabriela" e futuramente "Saramandaia" são exibidas após a primeira linha de shows, às 23h, próximo do horário da reprise de outros novelões no canal pago Viva, também da Globo.

Muitas pessoas assistem a essas produções também por influência de quem já as viu antes. Aqueles que já conhecem, querem ver se vai haver algo novo, ou se a história será mantida como a original. No caso do SBT, produtos do seu principal gênero, os programas de auditório, vez por outra voltam com nova roupagem. São vários os exemplos: "Fantasia", "TV Animal", "Roda a Roda", e o sucesso que surpreendeu a todos, a novelinha "Carrossel".

O crescimento das novelas da Record aconteceu com o remake de "A Escrava Isaura". Em seus auditórios, também já voltou a antiga "Corrida Maluca" com Gugu, e o apresentador se prepara para assumir o formato original do "Qual é a Música" de Silvio Santos. A Band também tem planos de resgatar um dos programas do dono do SBT, passando para José Luiz Datena o comando de "Quem Quer Ser um Miionário", conhecido por aqui como "Show do Milhão".

Não há problema algum em trazer de volta atrações que foram sucesso. Isso atrai ao mesmo tempo um público novo e os eternos fãs, como é o caso do Bozo. Mas também mostra que os executivos das emissoras possuem receio de apostar em novidades. Não dá pra viver só de passado, e não investir em novos talentos, capazes de reinventar a televisão. Serão esses profissionais que farão TV para seus contemporâneos, e as futuras gerações, e que poderão deter a queda livre da audiência.

Em tempo: o palhaço mais famoso do mundo estreou seu programa solo na vice-liderança. Segundo dados prévios, a atração empatou com a Record, com 4,3 pontos de média. A Globo liderou com 7,2. Imagem: Divulgação/SBT.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

A ESTREIA DE FLÁVIO CAVALCANTI NO SBT

Flávio Cavalcanti foi repórter de jornal e estreou na TV em 1955
Em seu segundo ano de existência, o SBT, atendendo popularmente pelo nome de TVS, já era vice líder de audiência em todo o Brasil. Mas seu faturamento não correspondia a todo esse IBOPE. A razão estava no mercado publicitário e em sua programação. A grade da emissora era considerada popularesca, e não popular. Os anunciantes não queriam ver seus produtos associados a atrações como "O Povo na TV" e "O Homem do Sapato Branco". Silvio Santos disse, certa vez, que fazia televisão para vender carnês do Baú, e que agora era necessário vender anúncios para sustentar o canal.

A direção monta uma boa equipe de comercialização e passa a qualificar sua programação. Para isso, resolveu contratar os melhores comunicadores do país. Um dos primeiros a integrar o novo time do SBT, em 1983, foi o apresentador Flávio Cavalcanti. Conhecido de outras emissoras, polêmico e amado ao mesmo tempo, Flávio aceita o convite de Silvio, e passa a apresentar um programa que levava o seu nome, às quintas feiras. Antes, o comunicador comandou o "Boa Noite Brasil" por um ano, na TV Bandeirantes.

Na TVS, trás de volta quadros de grande sucesso de sua trajetória, como "Um Instante, Maestro". Este espaço era dedicado principalmente à crítica musical. No passado, ficaram famosas as cenas do apresentador quebrando discos no palco, que considerasse de má qualidade. Pioneiro no uso de um júri em TV, os membros desta bancada também participavam do "Flávio Debate", onde discutiam um assunto de repercussão nacional. Ex-repórter do jornal carioca "A Manhã", o apresentador sempre fez questão de trazer o jornalismo ao seu programa. O semanal também apresentava diversas curiosidades ao público, como desfiles e revelações do cenário musical.

Em 1986, o desejo do apresentador era encerrar sua carreira artística e curtir a aposentadoria no seu futuro hotel, numa praia brasileira. Não deu tempo. Durante o programa, Flávio chama o intervalo como sempre fez: ergue o dedo indicador para o alto e diz "nossos comerciais, por favor". No bloco seguinte, ele não havia voltado. Wagner Montes foi pego de última hora, e encerrou a atração. O titular sofreu uma isquemia miocárdia aguda no palco, foi levado ao hospital e, quatro dias depois, faleceu, aos 63 anos. Como homenagem ao colega, o SBT de luto, saiu do ar por quase 24 horas. A programação só voltou a ser exibida após o sepultamento de Flávio Cavalcanti.

Curiosidades:

  • Não era a primeira vez que Flávio trabalhava para Silvio Santos. Em 1976 o apresentador comandava o programa de calouros "Um Instante, Maestro", na TVS-Rio;
  • José Messias, hoje jurado de Raul Gil, foi produtor e diretor de Flávio em algumas emissoras;
  • Sônia Abrão participou muitas vezes dos debates do programa, quando ainda era apenas uma colunista do jornal "Notícias Populares".
Veja abaixo alguns trechos do "Programa Flávio Cavalcanti", além do resumo feito pelo "Festival SBT 30 anos" e o depoimento de Sônia Abrão, que estava presente no último programa do apresentador. Como estamos no carnaval, assista também uma apresentação de marchinhas clássicas, exibido na atração com a orquestra regida pelo maestro Milani. Agradecimentos: claudiard1981, Ricardo Lippi, Estudio Danças do Mundo, Monica Poplawski, Guilherme Guidorizzi e SBT.