sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

CRÍTICA: ÚTIL E FÚTIL


Na madrugada de 20 de janeiro, Carlos Nascimento criticou o destaque que temas como o suposto estupro do BBB e a frase "... menos Luiza, que está no Canadá" ganharam nos noticiários brasileiros. Muitas pessoas, nas redes sociais, se ofenderam com a indignação do jornalista que iniciou o "Jornal do SBT" com a frase: "Ou os problemas brasileiros estão todos resolvidos, ou nós nos tornamos perfeitos idiotas". Houve quem entendesse aquilo como uma agressão à todos aqueles que brincaram com a frase dita num comercial imobiliário por um colunista social da Paraíba.

O problema não está na brincadeira que virou meme na internet. Afinal, essa não foi a primeira e nem será a última. Nem mesmo no Big Brother, já que reunir gotosas, saradões e muita bebida nunca acaba bem. A questão é o espaço que essas pautas ganham nos importantes noticiários do país. Temas deste tipo são perfeitamente aceitáveis em atrações vespertinas, como "A Tarde é Sua" (RedeTV!), "Muito+" (Band), ou especializadas como o "TV Fama" (RedeTV!). E sem nenhum demérito a qualquer programa do gênero, pois são programas de entretenimento, ou seja, feitos para divertir o público, que podem trazer informação, mas sem o mesmo compromisso de um telejornal.

Não é a primeira vez que acontece essa discussão. Em 1998, o "Jornal Nacional" foi apedrejado por dar quase dez minutos para o nascimento de Sasha, filha única da apresentadora Xuxa, com direito a entrada ao vivo e tudo. Este é apenas um exemplo de vários que podem ser citados.

Nascimento não quis ofender ninguém gratuitamente (seu comentário está na primeira pessoa do plural, atentem), mas alertar sobre o perigo que a sede por vender mais jornal, garantir mais acessos ou, no caso dele, dar mais audiência, traz para um veículo informativo: exaltar o fútil e excluir o útil. Com este comentário "polêmico", o jornalista também deu uma clara demonstração da importância da liberdade de expressão. Temos o direito de brincar, mas também temos o direito de não gostar da brincadeira. Quem dera todos os jornalistas que trabalham em grandes empresas de comunicação tivessem essa mesma oportunidade.



Comentário de Carlos Nascimento no "Jornal do SBT"

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

MUITO BRILHO E MUITO CONTRASTE


O ano de 2012 começou muito bem para uns, e muito mal para outros. A vida é assim. Com a TV não foi diferente. Já se foi o tempo em que Janeiro era sinônimo de reprises. As emissoras investem pesado em programas inéditos de suas atrações fixas na grade, e também em novidades.

No último dia 10, a TV Globo levou ao ar mais uma minissérie retratando a vida de uma das mais importantes, e discriminadas, estrelas que nosso país já teve: Dercy Gonçalves. A história de Dolores Gonçalves Costa, seu nome verdadeiro, foi contada em quatro capítulos. Coube as atrizes Heloísa Perissé e Fafy Siqueira viverem na telinha a trajetória batalhada e vitoriosa da maior artista popular do Brasil.

Um trabalho primoroso, escrito pela autora Maria Adelaide Amaral e dirigido por Jorge Fernando. Sem deixar de fora toda a equipe técnica e artística que colaborou para que este sucesso deixasse no público um gostinho de "quero mais". É preciso lembrar também da reverência que a própria emissora fez para Dercy, reconhecendo sua importância no começo difícil da TV Globo, quando a artista era uma importante audiência na sua grade. A intérprete da marchinha "A Perereca da Vizinha" quando faleceu em 2008 (com 102 anos), era contratada do SBT.

No mesmo dia 10, estreou a 12ª edição do polêmico Big Brother Brasil. O BBB vem mantendo uma média de 20 pontos diários, sendo amado ou odiado, mas mantendo a liderança da audiência. Tudo estava indo como de costume no reality show: corpos sarados, lindas figuras, um ambiente perfeito para a "pegação".

Na madrugada de Sábado (14) para Domingo, aconteceu a conhecida festa na casa, regada com muita bebida alcoólica, animada pela bateria da escola de samba Grande Rio e música eletrônica. Clima perfeito para se formarem casais e gerar romances. Com esses ingredientes, dois brothers (Daniel Echaniz e Monique Amin) acabaram "ficando" durante a festa e foram para o quarto. Seria mais uma clássica cena de movimentos estranhos debaixo do edredon, se não fosse o fato de que a sister não estava consciente, não reagia. O público entendeu a situação como estupro de vulnerável (sexo ou atos libidinosos com alguém sem condições de defesa).

A reação nas redes sociais foi imediata. O assunto passou "em brancas nuvens" na edição ao vivo do Domingo à noite. Na Segunda, uma diligência policial foi até o PROJAC (central de estúdios da Globo em Jacarepaguá, zona oeste do Rio) para ouvir os envolvidos no caso. À noite, o apresentador Pedro Bial, sem maiores detalhes, anuncia a expulsão do modelo Daniel Echaniz por um "grave comportamento inadequado". Segundo o jornalista durante a apresentação do BBB no dia 16, a decisão inédita na história do programa global foi tomada "de forma cuidadosa após criteriosa análise da direção do programa".

A televisão tem esse poder de ir do céu ao inferno, em muito pouco tempo. Há concorrentes que exploram o fato, como se não tivessem telhado de vidro. O que não faltam são críticos para condenarem a atração. A decisão da direção foi acertada. Uma grave suspeita não pode pôr em risco a imagem do programa, da emissora e, acima de tudo, dos anunciantes, que fazem do BBB uma das maiores receitas da Globo. Cabe agora à justiça conduzir o desfecho dessa história.

Para este ano novo, que começou quente, eu continuo torcendo para que a TV siga produzindo muito brilho para o público, e reduza o contraste com momentos lamentáveis que, como este, entram para a história do veículo. O telespectador merece sempre o melhor do ser humano, como "Dercy de Verdade", e não o pior.

Foto: Área Vip